O diretor M. Night Shyamalan deveria ser estudado pelas gerações futuras por ser um exemplo de como jogar sua carreira no lixo. Fala sério, o sujeito foi o único cara do meu conhecimento que conseguiu ir do topo para o fundo do poço em menos tempo que o Michael Kiske. Seus filmes passaram das populares cabines terroristas (coisa de filme esperadíssimo) para sequer serem mostrados para a imprensa num intervalo de três filmes.
Porém, embora ele dirigisse porcaria atrás de porcaria, pelo menos eu respeitava o sujeito porque ele se manteve autoral. Ok, ele só fazia porcaria, mas eram porcarias autorais. Até agora, pois o indiano se rendeu ao cinema de produtor em O Último Mestre do Ar.
E esse é um excelente exemplo da crueldade da cultura pop. O desenho Avatar veio anos antes do Avatar de James Cameron, mas quando Jaime Camarão faz um filme com o mesmo nome do seu, ainda que seja uma versão de Pocahontas com Smurfs, é melhor sua obra trocar de título, ou vai ficar marcada como um rip-off vagabundo. Não dá para encarar o poder do Camarão no cinema. E pelo menos esse bom senso a turminha do Shyamalan teve.
O ÚLTIMO MESTRE DO AR
Se você conhece o desenho, já deve saber do que se trata, mas se, como eu, você nunca assistiu à animação, aí vai um básico: existem quatro tribos, cada uma atribuída a um elemento. Algumas pessoas dentro dessas tribos têm o poder de dominar o elemento do seu grupo, mas apenas um, dentre todas elas, tem a pintudice necessária para dominar os quatro. E esse pintudão é o Avatar, que por acaso agora é um garotinho bochechudo que atende pelo nome Aang.
A tribo do fogo é malvada e quer dominar tudo. Por causa disso, eles têm medo do Avatar, pois acreditam que, quando ele aparecer, vai iniciar uma rebelião. Bom, ele aparece e faz exatamente isso. Mais “bem contra o mal” impossível, mais bidimensional impossível.
Para completar a picaretagem da história e arrebatar os fãs de Harry Potter, Aang não domina todos os elementos ainda. Em outras palavras, assim como o bruxinho nerd, ele é famoso, temido e admirado por todos, mas mal tem capacidade de fazer um sectumsempra decente. O roteiro não é apenas óbvio e picareta: é um lixo mesmo.
ÁUDIOVISUAL
Essa parte é a única responsável pela nota aí do lado colocar O Último Mestre do Ar na categoria “filme nada” e não nas categorias “pentagrama fail” ou “porcarias”. Simplesmente porque o longa é visualmente lindo e as músicas são fantásticas. Infelizmente, a picaretagem está presente até mesmo nas suas qualidades.
Sim, o filme é lindo, mas ele usa e abusa do contraste “azul/laranja”. Não existe uma cena em toda sua extensão que não apresente o contraste entre essas duas cores. A cor da pele do Dev Patel está tão laranja que parece que fizeram pipi nele, não apenas na sua foto. Caramba, até o pôster aposta nesse contraste!
Para quem não sabe do que estou falando, tornar algo bonito usando essas duas cores é mais ou menos como fazer humor com uma casca de banana. Dá certo, mas todos os profissionais da área e o público mais escolado vão saber que você é um picareta, pois você está repetindo algo já extensivamente testado e aprovado, não criando por conta própria. Designers, ilustradores, coloristas e afins costumam aprender isso no primeiro dia de carreira.
A seu favor, pelo menos as cenas de ação são realmente boas, assim como os efeitos especiais. Tão boas, aliás, que quando somadas à excelente trilha sonora, chegam até a causar arrepios.
Isso explica porque a nota é de um filme nada, não um redondo zero. Afinal, como o Cyrino falou aqui, se o roteiro for um lixo, mas o filme for bonitinho tecnicamente, a sensação do público não é a de estar assistindo a uma porcaria. Apenas a uma picaretagem.
Mas a picaretagem não acaba aí.
O 3D MAIS PICARETA DE TODOS OS TEMPOS
Se o amigo delfonauta achava que a moda do 3D não podia ficar mais cara de pau do que Fúria de Titãs, experimente pagar o premium para assistir a isso aqui de óculos. Ou melhor, não faça isso, doe esse rico dinheirinho que está queimando seu bolso para nós através do botão de doações aí do lado. Nós precisamos mais e não somos picaretas. =P
Isso porque o filme inteiro, SEM EXCEÇÃO, pode ser assistido sem os óculos. Na pior das hipóteses, as coisas ficam um pouquinho fora de foco, mas ainda assim mais nítidas do que imagem de TV aberta via antena. Quando o 3D falir miseravelmente daqui a algum tempo, as pessoas vão se lembrar de O Último Mestre do Ar como o filme que fez o povo abrir os olhos para o golpe dos óculos. E é uma pena, porque quando é usado honestamente, como no outro Avatar, o do James Cameron, pode ser um efeito muito legal.
O PARÁGRAFO ABAIXO ESTÁ EM 3D
No final das contas, temos aqui um filminho bem ruim, que pode servir como um bom colírio para os olhos se você não reparar que ele é inteiro azul e laranja ou se não se importar com isso. Agora se você quer simplesmente ver um filme visualmente bonito, tem muitas outras boas opções por aí, com roteiros bem melhores. E se quiser ver o contraste azul e laranja, vá para um parque numa tarde de verão e faça pipi ao ar livre.